Your browser is out-of-date!

Update your browser to view this website correctly. Update my browser now

×

Reporter. Writer. Radio and multimedia producer  | Currently in Lisbon, Portugal  | Updating...


Droga de estudo

O despertador toca às 6h. Mário, 22 anos, acorda, engole uma cápsula de Concerta e volta a adormecer. Quando o comprimido fizer efeito, dentro de duas horas e meia, Mário vai levantar-se de imediato, sem precisar de uma ajuda electrónica. Irá passar as próximas 14 horas a estudar. Se tomar café durante o dia conseguirá aguentar até às 3h ou 4h da manhã. Não vai sentir necessidade de parar e a sua capacidade de memorização estará no auge: “Com isto consigo ter concentração suficiente para ler o livro todo. Entra tudo quase à primeira. Se não tomasse este comprimido tinha de ler duas ou três vezes.”

Concerta e Ritalina são os nomes comerciais do medicamento metilfenidato, uma anfetamina usada para tratar doentes com o Transtorno do Défice de Atenção e Hiperactividade (TDAH), uma doença que se caracteriza por um excesso de actividade, períodos de sono encurtado, dificuldade de realizar e concluir tarefas e que muitas vezes se traduz numa incapacidade de concentração. Geralmente o diagnóstico é feito na infância, podendo persistir na idade adulta.

Crianças que tenham este transtorno vêem o seu rendimento escolar muito afectado. Nesses casos, o uso deste medicamento tem bons resultados: ajuda-as a acalmarem-se, a ter níveis de actividade mais próximos do normal e a melhorar a concentração.

Mas quando não se sofre de TDAH e se consome metilfenidato, essa substância funciona como uma anfetamina: “É o mesmo que tomar ecstasy ou cocaína. A pessoa fica mais agitada, tem mais energia, tem a sensação de que está mais esperta e não precisa de dormir”, explica Miguel Vasconcelos, psiquiatra e coordenador da área de tratamento da toxicodependência no Centro das Taipas.

É o que acontece com Mário, actualmente a terminar o terceiro ano do curso de Direito da Universidade de Lisboa. Acabou o secundário com média de 16 valores mas nunca sentiu necessidade de estudar e por isso quando chegou à Faculdade não sabia como fazê-lo: “Nunca fui muito organizado”.

Na época de exames do primeiro semestre do curso Mário viu-se apertado. Tinha apenas dois dias para estudar para um exame. O seu amigo Francisco, 22 anos, explicou-lhe aquilo que podia fazer para conseguir estudar muitas horas seguidas.

Com isto consigo ter concentração suficiente para ler o livro todo. Entra tudo quase à primeira. Se não tomasse este comprimido tinha de ler duas ou três vezes

Francisco tem um irmão a quem foi prescrita Concerta. O médico disse ao jovem que ele também poderia tomar nas épocas de exames, mas não lhe passou uma receita. Em dois anos, Francisco estima que tenha recorrido aos comprimidos do irmão cerca de dez vezes. A última foi há duas semanas: “Em igual tempo de estudo faço mais. O esforço de concentração é menor, não me distraio. Aquilo desperta o cérebro, ficas menos sonolento e produzes mais”.

A irmã de Mário tem 14 anos e toma Concerta desde que lhe foi diagnosticado o Défice de Atenção e Hiperactividade, aos 9. Mário explica que a irmã sempre teve dificuldade em ler e estudar.

Quando soube o que Francisco fazia, Mário passou uma tarde a pesquisar na Internet sobre o consumo desta e de outras substâncias semelhantes pelos estudantes. Num fórum de estudantes de Direito da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, encontrou dicas de consumo (alguns jovens preferiam tomar duas doses menores durante o dia em vez de uma) e relatos das experiências de colegas norte-americanos. Informou-se sobre os efeitos secundários e a possibilidade de adição, mas o que leu não o assustou. Então, foi buscar um comprimido ao frasco da irmã.

Só quando no dia seguinte, pelas 7 horas, o pai se levantou é que Mário se apercebeu que não tinha dormido. Tinha estado a estudar desde as 23 horas.

Miguel Vasconcelos explica que o abuso destas substâncias acarreta riscos psicológicos como ansiedade, insónias e ataques de pânico em casos de ansiedade extrema, podendo desencadear crises psicóticas em que se gera a sensação de que se está a ser perseguido ou observado. Os efeitos físicos passam pela hipertermia e a desidratação. Para a neuropsicóloga Paula Santos, no curto prazo o uso do metilfenidato permite ao sujeito ignorar os estímulos externos e, por isso, a pessoa consegue fixar-se no estudo durante mais tempo. No entanto, o uso a longo prazo vai provocar efeitos contrários: “Quando a pessoa deixa de usar a substância vai ter muito mais dificuldades em concentrar-se porque se desabituou desse esforço.”

Mário insiste que o seu único efeito secundário é a falta de apetite. Desde que toma Concerta já perdeu 2 quilos e tem de se obrigar a comer porque geralmente sente-se nauseado. A mãe, que não gosta que o filho tome esses comprimidos, percebe que Mário está sob o efeito de Concerta quando este se recusa a almoçar. “Já tomaste aquilo outra vez!”, diz Mário com uma expressão e um tom desaprovador, imitando a voz da mãe.

Para além da falta de apetite, a medicação também mexe com o seu humor: “Não tenho grande paciência para estar ao pé de pessoas. Quero estar concentrado”. Nessas alturas, fica num estado de grande irritabilidade e o mínimo barulho incomoda-o e deixa-o agitado.

Durante a época de exames deste Verão, Mário calcula que tenha tomado 10 comprimidos em duas semanas e que dormiu uma média de três ou quatro horas por noite. Por vezes usava o comprimido no próprio dia do exame “para ir mais concentrado”. Rejeita a ideia de que poderá ficar dependente da medicação e explica que durante o ano não toma Concerta: “Só uso mesmo na época de exames porque é muito apertado”.

Mário fuma tabaco e para além de ter experimentado drogas leves não consome outras substâncias.

Medicamentos como a Ritalina ou a Concerta só são acessíveis através de receita médica controlada, procurando-se assim evitar o mau uso, abuso e consequentes danos no consumidor, incluindo a dependência.

Quando a pessoa deixa de usar a substância vai ter muito mais dificuldades em concentrar-se porque se desabituou desse esforço

Nem Mário nem Francisco têm receita médica para a Concerta. Tomam os medicamentos que são passados em nome dos irmãos. Por vezes, Mário estuda com os amigos. Segundo ele, nesse grupo há mais cinco pessoas que usam Concerta. Os que não têm acesso aos medicamentos de familiares com TDAH pedem aos amigos que lhes arranjem os comprimidos. É fácil identificá-los, explica Mário. Estão completamente concentrados e não falam com ninguém. “Dizemos logo: ‘tomaste a bomba!’”

“Não sei se é uma consequência, mas desde que comecei a tomar isto a minha média subiu 2 valores”, diz Mário, orgulhoso. Se mantiver os 14 valores até ao final do curso vai conseguir entrar no Mestrado de Finanças que tanto deseja. Perguntamos-lhe se isso não é uma forma de dopping. “Não acho que seja. Não é como antes, que as pessoas usavam coca”.

Francisco tem uma resposta diferente: “Acho bem que seja considerado dopping. Recorres a uma ajuda a que nem todos têm acesso. A partir do momento em que uma pessoa tem um handicap em relação às outras pessoas acho que deve tomar. Se o meu caso é esse? Talvez não.”

Nos Estados Unidos da América e no Reino Unido o debate tem algum tempo e gera polémica nos meios académicos, onde se discute se, ao recorrer a substâncias como a Ritalina ou a Concerta, entre outros medicamentos usados para tratar o TDAH, jovens saudáveis estarão a ter algum tipo de vantagem relativamente aos seus colegas que não o fazem.

João Goulão, presidente do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências, afirma que aquilo que é adquirido num estudo de última hora potenciado por esses medicamentos não é devidamente interiorizado e não se traduz num conhecimento real. E acrescenta que “o uso destas substâncias é uma batota comparável ao dopping no desporto, e como tal levanta questões de equidade”.

Miguel Vasconcelos hesita em considerar o uso destes medicamentos como uma forma de dopping: “As pessoas ficam mais activas, mas também cometem mais erros”. Segundo Paula Santos, os estudantes cometem mais erros porque estão num estado de maior impulsividade: “A pessoa é mais rápida a responder e pode não reparar nos detalhes das perguntas”. A neuropsicóloga explica ainda que o consumo destas substâncias não aumenta a capacidade cognitiva: “O que aumenta é a sensação subjectiva de um maior rendimento no trabalho.”

Ricardo tem 31 anos e, depois de ter desistido de uma licenciatura em Fisioterapia em 2007, decidiu voltar a estudar e actualmente está a terminar o curso de Gestão de Marketing no Porto, ao mesmo tempo que trabalha. Nunca usou Ritalina ou Concerta, mas já recorreu a outra substância estimulante para estudar: a cocaína.

Ricardo queria aumentar a sua capacidade de memorização e precisava de estudar durante longos períodos de tempo sem interrupções. Dispôs a cocaína numa linha e inalou. O efeito foi imediato — a sua actividade mental disparou — mas não foi o desejado. Ao contrário do que esperava, a capacidade de concentração não aumentou. O seu pensamento ficou disperso e a confusão mental foi tal que Ricardo não conseguiu absorver nada da matéria que estudava. Com as palmas das mãos suadas também não era capaz de escrever. Experimentou quatro ou cinco vezes e desistiu. “Comigo não resulta e chegou mesmo a prejudicar-me”, explica, convencido de que o consumo de cocaína fê-lo tirar notas inferiores ao que ele desejava.

O uso destas substâncias é uma batota comparável ao dopping no desporto, e como tal levanta questões de equidade

Em Novembro de 2012 o jornal britânico Telegraph dava conta das intenções da Universidade de Cambridge de testar os alunos antes dos momentos de avaliação para despistar o uso de medicamentos que funcionem como estimulantes. Nessa mesma Universidade um estudo mostrou que 10% dos alunos admitiram já ter recorrido a potenciadores cognitivos. Mais recentemente, um inquérito a adolescentes norte-americanos revelou que 1 em cada 10 jovens com idades entre os 13 e os 17 anos usavam medicamentos como o Adderall, a Concerta e a Ritalina para se prepararem para os exames.

Não há conhecimento de nenhum inquérito em Portugal para tentar apurar a percentagem de estudantes que recorrem a estas anfetaminas de forma a melhorar o desempenho académico: “Não temos uma noção clara da dimensão desse fenómeno entre nós”, afirma João Goulão.

O professor do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) João Marôco apresentou em Outubro de 2012 um estudo sobre as determinantes e consequências do burnout em estudantes universitários. Nesse trabalho o investigador dedicou alguns capítulos à questão do uso de medicação, álcool e drogas por parte dos jovens que frequentam o ensino superior em Portugal: 32% admitiram recorrer algumas vezes a medicação por causa dos estudos, enquanto que 11,5% admitiu já ter-se refugiado no álcool ou noutras drogas para se sentir melhor.

O burnout é um estado de exaustão emocional caracterizado por uma baixa eficácia profissional, o que no caso dos estudantes se traduz na incapacidade de realizar os trabalhos académicos que lhes são solicitados e também numa elevada descrença na utilidade dos estudos, explica João Marôco. Um dos objectivos da sua investigação era perceber como é que os alunos lidavam com o burnout e até que ponto recorriam às drogas e à medicação para o fazer.

“Nos anos 70 e 80 do século XX, houve mau uso e abuso intensivo de medicamentos anfetamínicos em Portugal”, explica o psiquiatra Luís Patrício, para quem o consumo de drogas para estudar era mais evidente do que é actualmente, principalmente porque substâncias como o Preludin, o Lipoder e o Fringanor podiam ser adquiridas nas farmácias. Esses produtos acabaram por ser reclassificados e saíram do mercado. Acabaram por surgir outros que serviam para perder peso mas que tinham um efeito estimulante como foi o caso do Dinintel.

Miguel Vasconcelos, que começou a estudar Medicina em 1977, conta que, na altura em que frequentou o ensino superior, as anfetaminas eram muito usadas para os exames. “Era a sabedoria das anfetaminas como diziam os professores”. O médico lembra-se de ter conhecimento de uma morte associada ao consumo excessivo dessas substâncias.

O psiquiatra do Centro das Taipas está convencido de que continuam a existir casos de pessoas que recorrem a drogas para melhorar o desempenho académico, mas explica que a melhor forma de chegar a esses consumos é através dos pares porque muitas vezes esses jovens não têm noção de que estão em risco. Pela experiência profissional, Miguel Vasconcelos pensa que mesmo entre os adultos há cada vez mais pessoas a abusarem de Concerta e Ritalina, não como substância recreativa mas para aumentar o rendimento para o trabalho.

Enquanto preparava esta reportagem a Revista 2 falou com dezenas de jovens que frequentam o ensino superior em todo o país. Muitos revelaram que ouvem histórias sobre o consumo de anfetaminas entre os estudantes cujos cursos exigem maior memorização. “Falem com pessoal de Medicina ou de Direito”, diziam-nos. Raramente conheciam casos concretos. Respostas igualmente comuns: “Conheço muita gente que consome drogas mas não para estudar” ou “Fumo erva porque preciso de relaxar de tudo e não só por causa da Faculdade”.

Uma pessoa que precise de consumir todos os dias ou precise de beber álcool todos os dias terá algum tipo de patologia da ansiedade que tem de ser tratada. A melhor maneira de tratá-la não será com haxixe certamente

João Marôco afirma que dificilmente os jovens admitem consumir drogas por causa dos estudos, atribuindo a necessidade de um consumo regular ao stress: “Porque é que as pessoas consomem drogas? Nós sabemos qual é exigência de um curso superior, qual é a insegurança associada à situação económica actual, que leva as pessoas a terem elevados níveis de descrença na utilidade dos estudos, e portanto as pessoas dizem: ‘não é que eu precise de tomar cocaína para aumentar a minha capacidade cognitiva ou de memorização’ ou ‘não é que eu precise de tomar Xanax, mas relaxa-me e no outro dia consigo ter um melhor rendimento na aula.”

Para o investigador “as drogas podem ‘atenuar’ a exaustão emocional e a descrença. São uma forma de lidar com o estado emocional provocado pelo contexto pessoal, social, familiar e académico em que o estudante se encontra.” Esta situação constitui um risco, explica João Marôco, uma vez que os jovens se refugiam nestas substâncias em idades precoces e isso pode prolongar-se pela vida profissional: “É necessário prevenir antes de a adição começar em vez de tentar reparar os efeitos depois, porque muitas vezes as consequências são dramáticas”.

Explica Miguel Vasconcelos: “Uma pessoa que precise de consumir todos os dias ou precise de beber álcool todos os dias terá algum tipo de patologia da ansiedade que tem de ser tratada. A melhor maneira de tratá-la não será com haxixe certamente”.

Mariana interrompeu os estudos em Escultura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa há um ano. Aborrecia-se com as aulas, não percebia qual era o propósito dos trabalhos que lhe exigiam, não via utilidade no curso, não sabia o que ia fazer da vida e não queria gastar mais dinheiro aos pais. “Sentia que não aprendia nada de novo. Estava a bloquear-me mais do que a ajudar-me”.

Nunca foi a um psicólogo ou a um psiquiatra mas acha que já esteve deprimida: “Quando entrei para a faculdade fiquei completamente perdida e comecei a deprimir. Mais do que duvidar que tinha jeito para aquilo, duvidava se tinha capacidade para ser artista”.

Enquanto frequentava a Faculdade fumava haxixe e erva todos os dias. Experimentou produtos das smartshops. Por vezes, bebia um copo de vinho. Para “aguentar as aulas”. Para não ser tão perfeccionista, tão insegura. Para que o processo criativo fluísse. Mariana tinha de fumar para conseguir adormecer: “Sentia um alívio. A cabeça começava a descer. A claustrofobia passava um pouco.”

Na altura em que Mariana decidiu desistir do curso, um amigo disse-lhe que experimentasse Ritalina. Não quis. Teve medo de passar a depender dessa substância para funcionar normalmente: “Eu precisava de uma pausa, não de drogas.”

Esta história interessa particularmente a João Marôco, que tenciona passar uma temporada nos Estados Unidos – o investigador não conseguiu obter o financiamento para fazer o estudo a nível nacional – a estudar a síndrome do burnout e as suas consequências no universo dos estudantes de artes norte-americanos.  João Marôco pensa que o meio dos estudos artísticos é particularmente propício a situações de burnout por ser um meio onde, para além da grande competição e das escassas oportunidades, existe a questão de saber se se tem ou não tem talento. “À maior parte dos estudantes universitários é exigido trabalho. Diz-se aos alunos que se estudarem os resultados aparecem. No caso dos alunos de artes não é só o estudo, é também o talento e a criatividade e o talento não se ensina, é uma coisa com que se nasce ou não se nasce.”

Fábio tem 25 anos e acabou em Junho deste ano o curso de Artes Visuais na Universidade de Évora. Percebe bem as palavras de João Marôco. “É um curso muito difícil. Não é só estudar ou perceber. Os cursos mais artísticos mexem connosco a um nível mais pessoal. Tenho de ir mais ao fundo de mim para encontrar aquilo que quero fazer num determinado projecto”.

“No 1º ano ainda fazes duas ou três directas seguidas. Depois esgotam-se as directas”. Como já não conseguia ficar várias noites sem dormir, Fábio teve de mudar o método de trabalho. Fuma regularmente erva e haxixe, mas sabe que para os trabalhos práticos precisa de estar extremamente concentrado e então recorreu a drogas estimulantes. No ano anterior comprou dois produtos numa smartshop — um substituto da cocaína e outro que tinha os mesmos efeitos que o ecstasy — para conseguir fazer a cadeira mais importante do curso. Há dois meses usou uma anfetamina para terminar um trabalho que exigia que fizesse várias pinturas. “É como tomar 10 ou 15 cafés num só dia. Ficas acordado para a vida”.

Pedro, 21 anos, levanta-se cedo, toma um duche e veste-se. Está ansioso e nauseado e não consegue comer. Antes de sair de casa, fuma um charro. A estudar engenharias na Universidade de Aveiro desde 2009, repete este ritual sempre que tem um exame.

No início do terceiro ano do curso, ainda só tinha concluído quatro cadeiras, quando o normal era que tivesse feito 16. Começava a ficar desesperado. Tinha pensamentos suicidas. Não conseguia suportar a ideia de que estava a desiludir os pais que investiram nele.

Em Fevereiro de 2012, Pedro acordou para fazer exame e não percebeu o que lhe estava a acontecer. O corpo tremia, as pernas falhavam-lhe. Não conseguia controlar a respiração, acelerada, nem o choro, compulsivo. Nessa época de exames teve mais três ataques de pânico antes de momentos de avaliação. A partir daí deixou de ir aos exames com medo de falhar. Estudava e no dia da prova não conseguia sair de casa.

Começou a ser seguido por um psiquiatra, que lhe receitou sertralina — um anti-depressivo — e buspirona — um ansiolítico. Nessa altura parou completamente de beber e de fumar erva, que consumia ocasionalmente desde que tinha 17 anos, por ter receio que interferisse com a medicação. Tinha altos e baixos. Sentia-se bem às vezes, mas nunca conseguia relaxar nas épocas de exames.

Em Outubro de 2012, voltou a fumar droga com os amigos. Foi então que se apercebeu que isso o ajudava a lidar com o stress da Faculdade de uma forma mais eficaz do que a medicação psiquiátrica. Passou a usar a erva como auto-medicação e garante que, durante os exames, a erva não produz outros efeitos para além do relaxamento. O psiquiatra e o psicólogo que o acompanham tentam explicar-lhe que ao fazê-lo não está a lidar com a ansiedade. Pedro sabe que têm razão. Incomoda-o ter de recorrer às drogas para conseguir trabalhar e um dos seus maiores medos é que este padrão se prolongue na vida profissional: “Estou extremamente obcecado. Quero curar-me.”

Mas por enquanto ainda não encontrou forma de parar: “Eu sei que não é a atitude mais correcta para enfrentar o problema mas neste momento fumar droga é a minha única forma de ser avaliado.”

Todos os nomes dos estudantes entrevistados foram alterados. 

14' 36''