Perama e Atenas, GRÉCIA – Yannis Deliyannis, secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos em Perama, o subúrbio portuário de Atenas, pensa que não há forma de votar no referendo de hoje. “Nós queremos dizer ‘Não’ à União Europeia e ‘Não’ ao Governo Syriza”, diz, afastando, no entanto, a hipótese de se abster na votação. Yannis Deliyannis e alguns dos metalúrgicos que pertencem ao sindicato vão votar à sua maneira. “Vamos destruir os boletins de voto e colocar os nossos próprios folhetos nas urnas”, declara.
Encontramos Deliyannis num dos estaleiros navais de uma das regiões mais pobres de toda a Grécia, o Piréu. Em vastas áreas deste estaleiro há lugares vazios que deviam estar ocupados por barcos à espera de serem concertados. Os barcos não chegam e o trabalho escasseia. O secretário-geral diz-nos que das 16 mil pessoas que trabalhavam aqui antes da crise restam, neste momento, 700. O trabalho é temporário e dura apenas 60 dias por ano. Yannis Deliyannis diz que o seu sindicato tem lutado junto do Governo Syriza para conseguir mais investimento na região e mais apoios sociais para os trabalhadores, mas sem sucesso. Para este sindicalista, não há diferenças entre o Governo e a União Europeia: “estão todos a trabalhar para os patrões e não para o povo”, diz.
Na noite anterior ao referendo em que os gregos vão ser chamados a decidir se apoiam ou não a proposta dos credores internacionais, algumas pessoas nas ruas de Atenas estavam ainda indecisas quanto ao voto e outras disseram não se rever em nenhuma das opções de resposta.
Perto da praça Sintagma, Yannis, 18 anos, diz que vai votar em branco por não querer votar ‘Sim’ ou ‘Não’. Ainda assim, diz, não coloca sequer a hipótese de ficar em casa. “Sou contra a abstenção. Não nos podemos queixar sobre o estado do país se não participarmos ativamente.” Uma amiga que o acompanha, Konstantina, 18 anos, diz que não concorda nem com o ‘Sim’, nem com o ‘Não’, mas vai votar ‘Sim’ porque quer “ficar na União Europeia” e está convencida de que um voto negativo significa deixar o euro e a UE. “Sinto-me tão ansiosa por causa de tudo aquilo que está a acontecer”, diz-nos esta estudante que se prepara para ingressar na Universidade. “Tenho exames em pouco tempo. Quero ter um bom futuro e ser jornalista.”
Vamos destruir os boletins de voto e colocar os nossos próprios folhetos nas urnas.
Niko, 60 anos, acabou de levantar dinheiro de uma caixa multibanco, e diz que vai votar ‘Sim’ porque considera que um voto negativo “dificulta as negociações com a UE”. Ao contrário daquilo que pensam muitos dos apoiantes do ‘Sim’, Niko não acredita que em caso de vitória do ‘Não’, a Grécia seja forçada a abandonar o euro.
Panayiotis, 22, estudante de Biologia, diz à VISÃO que ainda não decidiu definitivamente, mas que está “mais inclinado para o ‘Não’.” Isto porque, defende, “dizer ‘Sim’ é continuar o rumo dos últimos cinco anos”. E apesar de ainda não ter a certeza absoluta do seu voto, Panayiotis também não teme cenários dramáticos a partir de segunda-feira caso o ‘Não’ seja vencedor. “Penso que os bancos não estarão fechados na segunda-feira. Os jornalistas é que criam esses cenários”, diz, a poucos metros de uma manifestação em frente à sede da Mega TV, uma estação privada que está a ser acusada pelos apoiantes do ‘Não’ de estar a fazer uma cobertura catastrofista das consequências do controlo de capitais na Grécia.
Dimitrios Papadimitriadis, 41, é um psiquiatra com uma forte presença mediática nos meios de comunicação gregos que vai votar ‘Não’. “Os gregos estão fartos da crise humanitária que só conduziu ao aumento dos suicídios, do desemprego e do desemprego jovem”, diz, acrescentando estar convencido de que o povo grego “está pronto para entrar em colisão com a União Europeia.” “E se os bancos fecharem na segunda-feira”, perguntamos. “Esse é o cenário mais provável”, diz. “Mas penso que os gregos sabem isso e estão a levar isso em consideração enquanto decidem”, continua. Para este psiquiatra, a frustração que se sente na sociedade grega é “tão grande” que muitos gregos podem já estar prontos a “correr o risco”.